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segunda-feira, 31 de março de 2008

Entrevista de Luís Freitas ao SintraSport.com

Luís Freitas, actualmente jogador do Igreja Nova. Concedeu uma entrevista em exclusivo ao SintraSport. O defesa central fala-nos dos primeiros pontapés na bola, do seu passado, presente e o que espera do futuro.

Luís Freitas de 29 anos representou como sénior o Futebol Benfica, Atlético Clube do Cacém, Agualva, Vilafranquense e actualmente representa o Igreja Nova. Profissionalmente exerce as funções de Coordenador Projectos Divisão Administrativa Financeira Ibérica na Logística no Grupo Luís Simões.

Nome: Luís Freitas Idade: 29
Profissão: Coordenador Projectos Divisão Administrativa Financeira Ibérica
Local de Nascimento: Lisboa
Data de Nascimento: 23 de Junho de 1978

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SintraSport : O Luís Freitas começou a jogar futebol em que clube?
Luís Freitas : Dei os meus primeiros passos na Escola de Futebol Humberto Coelho, onde passei momentos muito bons. Por duas vezes recebi um prémio para estagiar na Escola de Futebol do Bobby Charlton em Manchester, tendo sido duas experiências únicas. O responsável pela comitiva foi o Prof. João Barnabé, e numa das viagens fui com o Jorge Cordeiro, que actualmente joga na AD Oeiras. Entretanto recebi o convite do Olivais e Moscavide, onde comecei a jogar como federado, no escalão de Iniciados. Após duas épocas transitei para o Clube Futebol Benfica onde efectuei 7 épocas, 3 delas já como sénior.

SintraSport : O Luís começou a sua carreira como sénior em que clube?
Luís Freitas : Clube Futebol Benfica

SintraSport : É futebolista amador? Alguma vez foi profissional?
Luís Freitas : Sempre joguei como amador. Existiu a possibilidade de assinar um contrato profissional, com uma equipa da 2ª Divisão dos Açores. Tinha 19 anos, estava no 2º ano da faculdade, a tirar o curso de Gestão de Empresas, e não foi uma decisão fácil, mas acredito que foi a decisão correcta.


SintraSport : Como é que lida um jogador amador com treinos, jogos, vida profissional e familiar? Deve ser complicado.
Luís Freitas : É extremamente complicado gerir e manter o equilíbrio entre a vida profissional, familiar e desportiva. Temos que abdicar de 3 horas por dia, durante 4 dias da semana , e do Domingo (por vezes também do Sábado com as deslocações), e é sobretudo a família que sai mais prejudicada, sobretudo quando temos filhos.

SintraSport : Joga-se pelo amor ao jogo? Ao prazer de jogar futebol?
Luís Freitas : Tem que se ter prazer a jogar futebol. Quem treina 4 vezes por semana, abdica do Domingo, treina e joga à chuva, sujeita-se a lesões que podem ter impacto na sua vida profissional e muitas vezes sai dos clubes com ordenados em atraso, tem que ter prazer no que faz. Obviamente que se me perguntarem se jogava nestas condições sem ter qualquer tipo de compensação diria de imediato que não. Continuaria a jogar, mas com menos intensidade e responsabilidade.

SintraSport : Foi capitão de um dos mais conhecidos clubes do concelho de Sintra, o Atlético do Cacém como foi lidar com essa "pressão"?
Luís Freitas : Foi uma lição de vida, que me ajudou muito a gerir situações extra-futebol. Ter sido capitão de um clube como o Atlético do Cacém foi um orgulho, mas ao mesmo tempo uma grande responsabilidade, sobretudo nos momentos menos bons, onde era necessário blindar o balneário dos problemas externos e gerir a relação com a equipa técnica e Direcção.

SintraSport : Esteve mesmo perto de subir de divisão, jogando no Estádio da Luz apenas ficando atrás de Real e Benfica B. O que falhou na altura?
Luís Freitas : Tínhamos acabado de subir da Divisão de Honra de Lisboa e ficamos em terceiro lugar, atrás de equipas muito fortes, com orçamentos substancialmente mais elevados. Fizemos um percurso similar ao deste ano no Igreja Nova, em que terminámos a primeira fase em 4º lugar. Creio ter sido a melhor classificação da História do Clube, que ganha ainda maior dimensão com os problemas verificados no final da época, que terminaram com o desmoronar da Direcção e respectivas eleições. Penso que este factor foi decisivo para não termos ido um pouco mais longe, mas fica a memória de uma época absolutamente fantástica, com um grupo de trabalho único.sen_10.jpg

SintraSport : Após anos a capitanear o ACC, com uma saída para o Agualva, passagem pelo Vilafranquense e regresso ao clube. No decorrer da época passada surgiram uma série de problemas só garantindo o Cacém a permanência na última jornada, o que realmente se passou?
Luís Freitas : Foi o ano mais complicado de sempre, em que cada semana tínhamos uma situação diferente. Assistimos à demissão da equipa técnica, jogadores dispensados, falta de condições de trabalho, ordenados em atraso e uma forte instabilidade no Clube. Os resultados também não eram bons e o campeonato muito competitivo, pelo que apenas com um grupo de trabalho com capacidade de sofrimento e que sempre se manteve unido conseguimos alcançar a manutenção na penúltima jornada.

SintraSport : Ainda é considerado uma das figuras do Atlético do Cacém, explique-nos o porquê da sua saída em particular e de alguns carismáticos como Fragata e Kadu?
Luís Freitas : Em relação à saída do Kadu e do Fragata creio que apenas eles podem comentar o que realmente se passou. No meu caso não se tratou apenas de uma situação específica. Do núcleo principal da equipa, apenas mostraram real interesse em continuar comigo, com o David e com o Casquinha. Obviamente que não concordei com a saída de jogadores como o Fragata, Kadu, Paulo Jorge, Cabral, Marinho, Afonso, entre outros, que tanto deram pelo clube durante anos. O facto de termos vários problemas, conforme mencionado, gerou muita instabilidade no seio do grupo, o que motivou vários problemas com a Direcção, que tiveram que ser geridos pelos Capitães, motivando para estes um forte desgaste diário. Aliando estes motivos ao facto de termos passado meia época com ordenados em atraso, está de uma forma global explicada a minha saída em particular.

SintraSport : Não foi certamente apenas por questões monetárias?
Luís Freitas : Claro que não.

SintraSport : Encontrou melhores condições no Igreja Nova que no Atlético Clube do Cacém?
Luís Freitas : São clubes com condições completamente antagónicas. Por um lado o ACC tem um parque desportivo muito bom, tem experiência nestas divisões, mas instabilidade directiva e uma equipa muito jovem, com muito potencial. O Igreja Nova é um clube que teve um crescimento muito rápido, sendo este ano a sua estreia na 3ª divisão, mas que tem uma estabilidade fundamental para o sucesso, uma equipa de futebol muito experiente que lida bem com a pressão. A forma como o plantel foi preparado, definido e construído creio ter sido uma das chaves fundamentais para o sucesso.

SintraSport : O que pensa do actual momento do Atlético do Cacém?
Luís Freitas : É com tristeza que assisto a esta instabilidade, mas acredito que será passageira. Penso que estamos numa fase decisiva da História do clube. É um clube com muito potencial, mas que precisa de Capital humano, de uma estrutura estável que garanta o crescimento sustentado. As pessoas que realmente gostam e sentem o clube têm que se unir em prol do mesmo, pelo que creio que o próximo acto eleitoral será decisivo para percebermos o rumo que o clube poderá ter nos próximos tempos.

SintraSport : Como foi defrontar o Atlético do Cacém? E marcar um golo ao seu ex-clube?
Luís Freitas : Não foi fácil defrontar a camisola que vesti durante tantos anos, mas a vida é mesmo assim. O destino tem destas coisas e acabei por marcar um golo ao ACC, foi uma sensação muito estranha. 1.jpg

SintraSport : Numa das duas vezes que defrontou o Atlético do Cacém, foi expulso por um árbitro que não agradou às duas equipas. Como classifica a arbitragem nos campeonatos nacionais amadores?
Luís Freitas : Na minha opinião a arbitragem tem evoluído de forma favorável nos últimos anos. Acredito que o caminho a nível nacional passa pela profissionalização e responsabilização destes intervenientes. Será esta a solução para termos mais rigor e aumentar o nível de exigência para padrões internacionais.

SintraSport :Acha que o Igreja Nova tem tudo para conseguir a subida nas próximas épocas, a curto prazo?
Luís Freitas : É um clube que está habituado a vencer e isso é muito importante. A Direcção do Igreja Nova é muito ambiciosa mas também realista pelo que acredito que no curto prazo a luta pela subida possa ser um objectivo. Este ano cumprimos o objectivo principal que era ficar nos 6 primeiros lugares, pelo que encaramos de forma descontraída mas responsável e ambiciosa esta segunda fase.

SintraSport : Como é jogar ao lado de um jogador (Rodolfo) que pisou os maiores palcos nacionais?
Luís Freitas : É muito interessante poder jogar ao lado do Rodolfo, um jogador com uma carreira notável. Tem sido uma peça fundamental na estrutura e no equilíbrio da nossa equipa.

SintraSport : Por onde passa o futuro de Luís Freitas?
Luís Freitas : Ainda não está nada definido.

SintraSport : Até quando pensa jogar futebol?
Luís Freitas : Teoricamente um jogador na minha posição pode jogar até aos 35/36 anos a este nível. Contudo e tendo em conta as exigências profissionais e familiares conto jogar mais 2/3 anos a este nível.

SintraSport : Cada vez mais vimos clubes a fechar portas e a descer divisão atrás de divisão. Pensa que o futebol amador está a morrer?
Luís Freitas : Não está a morrer mas já teve melhores dias… Os únicos clubes que têm capacidade de sobreviver no longo prazo serão os que se tornarem auto-sustentáveis e os que tiverem uma equipa de gestão a dirigir com consciência da realidade actual.

SintraSport : O que pensa da crescente invasão de estrangeiros que limitam a progressão dos jogadores portugueses e todos sabemos que existem muitos e bons por esses campos fora?
Luís Freitas : A inscrição de jogadores estrangeiros deveria estar limitada de forma a potenciar os jogadores portugueses. Existem muitos bons jogadores portugueses nas divisões inferiores que acabam por ter que ir para o estrangeiro tentar a sua a sorte.

cacem_lourel_2.jpgSintraSport : Existe ainda o amor à camisola?
Luís Freitas : Acredito que sim, embora cada vez menos.

SintraSport : Pergunta difícil. Qual o seu clube? Aquele que realmente sente paixão?
Luís Freitas : Benfica

SintraSport : Agora uma pergunta da casa, o que pensa de projectos como o SintraSport, que visam dar maior visibilidade ao futebol amador e jovem?
Luís Freitas : São projectos muito importantes que visam potenciar uma realidade que não é abrangida pela maioria da comunicação social, sendo por isso relegada para segundo plano. Permitem dar maior visibilidade dos Clubes e dos jogadores com potencial para vingar no futebol. No caso concreto do SintraSport trata-se de um exemplo de sucesso que acompanho desde o arranque e que muito me tem ajudado a manter informado sobre tudo o que se passa nestas divisões.

SintraSport : Luís foi um prazer conversar consigo, um dos grandes jogadores da terceira divisão nacional, deixe-nos algumas palavras para os nossos leitores:
Luís Freitas : Antes de mais agradecer ao SintraSport o convite para esta entrevista. A todos os leitores o apelo para que continuem a contribuir para estes projectos e que apoiem as vossas equipas no dia a dia.

Entrevista por Nuno Sinosgas / Rui Lopes

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fotos por Nuno Gaspar

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